terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Reflexão - O que realmente distingue dois jogadores

Imaginemos a seguinte situação: os jogadores A e B têm exatamente a mesma qualidade técnica e potencial numa fase inicial das suas carreiras.

O jogador A toma quase sempre a decisão que mais beneficia a equipa, sendo que escolhe bem o momento em que deve partir para a finta, em que deve passar, em que deve rematar à baliza.

O jogador B força quase sempre o 1x1, vai sempre para cima do adversário,recorre constantemente à finta e é capaz de ir numa situação de 2x1 com o guarda-redes adversário e tentar fintá-lo (arriscando-se a perder a bola) quando tem um colega de equipa ao seu lado, em posição privilegiada para marcar. Para além disso, se obtém sucesso numa primeira finta, tenta sempre outra, ou então rematar, em vez de soltar a bola.

Não esquecendo que ambos os jogadores têm a mesma qualidade técnica, qual vos parece o jogador que melhor lê o jogo, que dá mais à equipa, que é, efetivamente, o melhor jogador?
Se disse o jogador A, então está correto, e é da mesma opinião que eu.
Se disse o jogador B, deve ser o fâ número 1 do Quaresma.

Ora e já que falei nele, porque não darmos um exemplo prático da situação que expus?

Ronaldo e Quaresma, há alguns anos atrás. (Sensivelmente) A mesma qualidade técnica e individual, dois futuros completamente diferentes. Um é o melhor jogador do mundo, outro é um jogador medíocre. Porquê? Porque Quaresma não sabe agir de acordo com o que o jogo pede. Não sabe jogar e dar a jogar. Esteve em clubes como o Barcelona e o Inter e foi parar ao Al Ahli... Porquê? Porque não contribuía para a equipa, pensava sempre na finta, no lance arrojado, e poucas vezes no que seria realmente melhor para a equipa.

Quanto a Ronaldo, palavras para quê? Muito trabalho e uma capacidade para tomar a decisão correta em quase todas as situações, tornando-o assim uma máquina de fazer golos e assistências. 

Revolta-me que um jogador como Quaresma, que tem uma capacidade fora do comum para usar a parte exterior do pé (trivela), que poderia usar esse recurso para bater a defesa adversária com passes de rutura inesperados, para fazer jogar os colegas, e em vez de isso corre pela linha, faz uma finta para dentro e ,se resultar, vai logo uma "trivelada" do bico da área para a baliza. Um jogador que tem esta qualidade técnica, poderia usá-la para atraír o adversário, e depois colocar a bola no espaço. Atrai e solta. Em vez de atrai e fica com a bola.

Vídeos relativos a lances do Marítimo 1-0 FC Porto da última jornada do campeonato. Podemos ver que Quaresma sai com qualidade no drible e depois... estraga tudo. O que faria um jogador como o jogador A, depois de ter deixado um adversário para trás? Provavelmente atraía o central do Marítimo (central este que, para sair na pressão ao jogador A, deixaria um espaço no centro do terreno) e aproveitaria para fazer o passe para a zona onde faltasse o defesa onde apareceria, em princípio, um jogador sozinho a finalizar. Quanto ao Harry Potter, o nosso jogador B, este optou em ambos os casos pelo remate, estragando assim o que podiam ser dois lances de golo claro. Analisemos agora o que pedia o jogo em ambos os momentos. 
27 minutos, 0-0 no marcador, e o FCP precisava de um golo para tomar as rédeas do jogo. Impunha-se uma assistência de Quaresma, optou pelo remate.
41 minutos, o Porto perde já por 1-0, o jogo está prestes a ir para o intervalo, o FCP poderia ter igualado a partida, e entrar de uma forma completamente diferente na segunda parte. Quaresma atrai bem os defesas, cria-se o tal espaço no meio, Quaresma remata.



Termino este artigo com a mensagem de que qualidade não chega, há que saber ler o jogo e saber agir de acordo com o que este pede. Assim sendo, há jogadores que não têm a qualidade técnica de Quaresma, mas que são bem mais sucedidos por terem a capacidade de tomar a melhor decisão, e que mais favorece a equipa.

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