terça-feira, 4 de agosto de 2015

À conversa com João Pedro Bernardo

À conversa com João Pedro Bernardo, criador do blog "Sair a Jogar".

-Antes de mais deixa-me dizer que é um prazer ter-te no blog.

JP- O prazer é todo meu.







Qual é a qualidade que mais aprecias num jogador? 


JP- A resposta a esta pergunta contém as 3 qualidades que eu considero fundamentais para que um jogador seja top mundial, não quer dizer que outras não sejam importantes, porque também são, mas estas são as que para mim fazem a diferença. Antes de tudo um jogador tem que ter qualidade técnica, é o início de tudo. Se a ideia de uma jogada for boa mas não tiveres técnica para a executar não te serve de nada. De seguida surge a inteligência. Um jogador inteligente vai colocar a equipa mais perto da vitória a cada ação, e o jogo é um jogo de decisões, por isso os melhores são os mais inteligentes. A última característica é a criatividade. A criatividade surge como a qualidade que eu mais aprecio porque não está ao alcance de qualquer um. Criatividade é descobrir soluções onde elas não existem, e para que isso aconteça é preciso ter uma qualidade técnica acima da média e uma inteligência fora do normal. É um pouco a junção das outras duas qualidades numa só. Dá-me prazer ver um jogador criativo a jogar. Messi é o expoente máximo da criatividade.

Qual é a qualidade que mais aprecias num treinador? 


JP- Tudo se resume à palavra “Competência”. No fundo gosto de qualidade, mas a qualidade é muito relativa. O que para mim é qualidade para o José Mota certamente não é, ou vice-versa. Eu gosto de treinadores que não tenham medo de encarar o jogo, que tenham personalidade. Que se mantenham fieis à sua ideia de jogo, e que eu me identifique com essa ideia. É difícil dizer por palavras, o apreciar em futebol é muito mais prático do que teórico.

Onde te vês daqui a 5 anos? 

JP- Cinco anos é muito tempo, nessa altura espero estar a exercer uma função relacionada com o jogo e com o treino num clube de médio nível em Portugal.

Sei que ambicionas vir a ser treinador. Qual seria o teu modelo base de jogo? 

JP- Vai sempre depender do contexto em que eu estiver inserido. Não há modelos de jogo iguais. Eu adoro ter a bola e fazê-la correr com objetividade, vou querer sempre que isso aconteça, mas sei que nem sempre vai fazer sentido pressionar alto ou ter os extremos por dentro do bloco adversário, tudo irá depender do que eu tiver à mão. Eu irei querer sempre planteis que me possibilitem jogar como quero, mas sei que nem sempre isso irá acontecer em todas as posições. Se me derem um plantel em que os jogadores da frente sejam todos parecidos com o Capel eu tenho que tirar proveito disso de alguma forma e ao mesmo tempo tenho que esconder os defeitos deles. Nesse caso específico pode fazer mais sentido jogar com um bloco baixo para criar espaço nas costas do adversário e dessa forma aproveito o que há de bom nos jogadores, a velocidade. O que pode estar sempre presente são princípios base das minhas equipas, por exemplo, criar superioridade numérica em determinadas zonas do campo, mas isso é apenas um princípio e o modelo de jogo é muito para além de princípios.   

Prognósticos para a época que se avizinha na Liga Portuguesa?

JP- Vai ser uma época equilibrada como foi a anterior. Acho que o Porto tem uma ligeira vantagem por não ter mudado de treinador, um ano de trabalho é muito tempo. Têm feito boas e caras contratações, o plantel continua a ter muita qualidade individual. Logo a seguir e muito próximo parte o Sporting. Com 4 ou 5 semanas de trabalho já se encontram a um nível fora do normal, mas quem tem Jorge Jesus arrisca-se a isso. Há muita qualidade individual neste Sporting, engane-se quem pensa que não. Depois há o Benfica que apesar de ter sido campeão não me convence, muito por culpa do treinador. É verdade que vêm de 6 anos de trabalho em cima de uma ideia de jogo, mas se os estímulos não forem treinados os 6 anos vão à vida deles. Continuam a ter muita qualidade individual, mas isso não chega, os dois rivais também têm. Além dos 3 grandes quero muito ver o Braga, vai ser uma agradável surpresa e pode causar alguns dissabores. 

Como tens encarado as “bombas” no mercado de transferências? Alguma que te tenha surpreendido em particular? 

JP- Tenho encarado com alguma surpresa. Não esperava que um jogador com o prestígio do Casillas viesse para Portugal. Para além disso não estava à espera que o Porto gastasse 20 milhões pelo passe do Imbula, não quer dizer que não os valha, mas é incomum ver um clube português dar tanto dinheiro. No Sporting os jogadores que vieram acrescentam muita qualidade, destaque para o Bryan Ruíz e para a possível vinda do Boateng. O Benfica também contratou bem, Taarabt é craque. Apesar de algumas saídas, principalmente no Porto, destaco a permanência de jogadores chave no Sporting e no Benfica. Muitas das vezes é mais importante renovar ou ficar com alguns jogadores fundamentais do que contratar 4 ou 5. De uma forma geral acho que os clubes se estão a reforçar muito bem, vai ser um ano com mais qualidade individual do que o anterior.

Se pudesses escolher um XI com os jogadores que quisesses treinar, qual era o teu?

JP- É muito difícil escolher só 11, vai ser sempre uma escolha injusta, mas aqui vai: Neuer, Lahm, Piqué, Badstuber, Marcelo, Pirlo, Xavi, Iniesta, Hazard, Ronaldo e Messi.

Mourinho ou Jesus? 

JP- Como a pergunta está a ser feita agora e não há 10 anos atrás vou ter que responder que prefiro Jesus. Mourinho já não é o mesmo, nem está perto de o voltar a ser. Mudou, hoje não me identifico com o futebol dele, é um futebol banal e pobre que vive das individualidades. Gostava de saber o que fez com que mudasse, talvez tenha ficado traumatizado com o futebol do Barcelona de Guardiola por não o conseguir vencer, mas isso só ele poderá responder. No lado oposto surge Jorge Jesus que é um dos melhores do mundo e o melhor em Portugal. O Futebol das suas equipas é apaixonante, aquela organização defensiva roça a perfeição. Foi o principal responsável pelo término da hegemonia do Porto. Vai continuar a ganhar títulos, vai continuar a jogar bem e com qualidade, e quando assim é está-se sempre mais perto de ganhar, e ele vai ganhar, desta vez no Sporting. Neste momento só queria que Jesus e Mourinho estivessem no lugar um do outro, se assim fosse muita coisa vinha ao de cima. 

Qual a posição mais importante dentro do campo?

JP- Não acho que por si só haja posições mais importantes dentro de campo, há sim posições que são mais difíceis de interpretar, mas isso também tem a ver com as características de cada jogador. Por exemplo, um jogador com pouca técnica sentirá mais dificuldades ao jogar na posição 10, que é uma posição onde há menos espaço e tempo para pensar e executar, mas, ao mesmo tempo, um 10, geralmente mais baixo e mais frágil fisicamente, sentirá dificuldades ao jogar a defesa central, não estará tão preparado para os confrontos físicos. Ainda assim acho que pode haver jogadores mais importantes em determinadas equipas, mas isso vai depender sempre do modelo de jogo da equipa, e desta forma não se pode dizer que o mais importante é sempre o médio centro, depende e varia de equipa para equipa, de treinador para treinador, de ideia para ideia.

De uma forma geral, dás mais importância à exibição ou ao resultado?

JP- É difícil dissociar os dois, porque são consequência um do outro. Uma equipa que jogue bem vai estar sempre mais perto de ganhar. Se estivermos a falar de formação vou dar sempre mais importância à exibição e ao processo do que ao resultado. Na formação forma-se jogadores e não acredito que se consiga formar jogadores de qualidade dando mais importância ao resultado. Se estivermos a falar de futebol sénior é óbvio que vou sempre preferir o resultado, não faz sentido que seja de outra forma porque o objetivo passa por ganhar. Quero ainda deixar um ponto bem assente para que não restem dúvidas, se jogarmos para o resultado vamos estar sempre mais perto da derrota, se jogarmos bem e com exibições de qualidade vamos estar sempre mais perto da vitória. Cada um sabe de si, eu cá prefiro estar sempre mais perto de ganhar.

Muito obrigado pela tua presença, um abraço e tudo de bom para o teu blog.

JP- Obrigado eu, tudo de bom.


1 comentário:

  1. Não entendo, pensava que o Mourinho jogava pró resultado. Acho que as suas exibições este ano na barclays mostraram bem isso. E não podemos culpar a qualidade técnica porque as outras equipas têm tanta qualidade de jogadores como o chelsea. Visto isto, João, como é que dás mais importância ao resultado e preferes o futebol de Jesus quando Mourinho baseia as suas ideias de jogo pura e simplesmente na vitória?

    ResponderEliminar