quarta-feira, 1 de junho de 2016

À Conversa com João Bernardo



À conversa com João Bernardo, criador do blog "Sair a Jogar" e Treinador na Geração Benfica Matosinhos.

-Antes de mais deixa-me dizer que é um prazer ter-te novamente no blog para mais uma conversa.

 
JB- O prazer é todo meu.
- Aquando do fim da época 2015/2016 que balanço fazes do campeonato nacional?
JB- Faço um balanço relativamente positivo, porque houve alguma qualidade. Confesso que no Verão nunca pensei que o Benfica fosse ser campeão, para mim a luta ia ser até à última jornada entre Porto e Sporting. O Porto porque era o único dos 3 grandes com um treinador que tinha um ano de trabalho em cima. O Sporting simplesmente porque tinha Jorge Jesus. Um conjunto de fatores fizeram com que os papéis se invertessem. Falo, por exemplo, da construção do plantel do Porto, que comparativamente ao do ano passado é muito inferior, e que a juntar a isso mudou de treinador a meio da época, numa altura em que para mim já não fazia qualquer sentido que assim fosse. Aqui o Porto ficou logo arrumado, porque a chegada de um novo treinador implica novas ideias, novas aprendizagens, novas formas de lidar com o treino, e sobretudo, implica tempo, muito tempo para que o treinador possa operacionalizar bem o que quer. Não me parece que haja tempo para muita coisa no decorrer de uma época para quem chega assim de repente, muito menos num clube como o Porto, que ainda estava em várias frentes, logo o volume de jogos era alto e, por consequência, o de treino era reduzido. O Sporting foi a equipa melhor trabalhada em Portugal, como seria de esperar de quem tem Jorge Jesus. Ganharam 6 de 7 clássicos durante o ano todo, e o que perderam foi a falhar golos de baliza aberta. O problema do Sporting nunca foi o futebol jogado, foi o extrafutebol. As palavras de Jesus sobre Rui Vitória causaram muita raiva e vontade de vencer no balneário do Benfica, os jogadores sentiram-se atacados com o ego enorme de Jesus. Basicamente o Sporting foi fora do campo o oposto daquilo que é dentro dele, foi péssimo na comunicação e Jorge Jesus roçou o ridículo. Continuo a admirá-lo muito e vai ser sempre uma referência, mas só no que toca ao jogo, porque fora de campo é o oposto da minha forma de estar. Rui Vitória herdou uma equipa com 6 anos de trabalho em cima, trabalho do melhor que se faz no mundo. Começou mal, com os comportamentos a desvirtuarem-se daquilo que tinha sido a excelência dos últimos 6 anos, mas aos poucos foi conseguindo trabalhar, os adeptos foram pacientes, ao contrário do que se passa no Porto, e, por isso, houve evolução. Muito respeito pelo que Rui Vitória fez quanto a chegada à equipa A de alguns jogadores. É impossível falar deste campeonato sem que se fale do Braga de Paulo Fonseca. É um treinador cada vez mais preparado para voltar a um grande e ser campeão, se lhe deram condições para isso. Não é o mesmo que era nos tempos do Porto, a passagem por Paços de Ferreira fez-lhe muito bem. Teve muita humildade e refletiu sobre tudo, sobre o que foi bom e o que foi mau, e é com essa capacidade de autocritica que um treinador evolui. Uma postura e uma forma de estar no futebol invejável, sempre a por a equipa à frente de tudo. Muita qualidade nos comportamentos da sua equipa, sempre com a mesma organização independentemente de qual fosse o 11 titular. Quanto ao resto, há treinadores e clubes que merecem uma nota de destaque. Um obrigado a Julio Velázquez pela coragem, pela personalidade e pelo perfume que trouxe ao seu Belenenses, nunca abdicando de jogar, seja contra quem for. Ao Arouca, os meus parabéns, embora me identifique pouco com Lito Vidigal. Ao Paços de Ferreira, que para além de continuar a ser uma casa de bons treinadores, é um clube que continua a não ter medo de ser bem-sucedido a recorrer à formação. Certamente que me esqueci de alguém, mas estes sem dúvida merecem.
- Pessoalmente alcançaste um objetivo importante durante este ano, deste um passo importante numa possível futura carreira de treinador. Como te sentes em relação a isso?
JB- Sim, este ano tive a oportunidade de fazer parte da estrutura da Geração Benfica Matosinhos, nas funções de treinador. Tem sido um ano de muitas aprendizagens, foi a minha primeira experiência ao nível de treino. Evolui-se muito no terreno, em contacto com os miúdos, a sermos obrigados a pensar rápido para dar feedback, a estar condicionados com fatores que não conseguimos controlar e que influenciam o treino, a ter que dividir o feedback com os pais que também gostavam de estar na nossa posição, evolui-se mesmo com tudo. É completamente diferente dar um treino a sub-6 e passados dois dias dar a sub-11. Muda tudo, os objetivos de treino são completamente diferentes e por isso o nosso comportamento também é diferente. Tudo é estimulante para a evolução. Eu acho que se evolui de diferentes formas com todas as idades e eu tenho tido a sorte de já ter convivido com todas as equipas, mesmo que por pouco tempo com algumas delas. Este ano já treinei rapazes e raparigas dos 4 aos 16 anos, por isso ao nível dos estímulos foi bom para evoluir em muita coisa, mas o caminho ainda é muito longo. Tenho dado bons passos a cada ano que passa, este ano dei mais um. Para o ano quero dar outro, não posso parar.

- Guardiola no City... Temos novo campeão inglês?
JB- Espero sinceramente que sim, e não consigo aceitar um não como resposta porque as minhas expectativas em relação ao Guardiola são sempre as mais altas. Vamos ver como é que vai encarar o campeonato e que plantel lhe vão dar. Espero que se distancie daquilo que tinha vindo a jogar com o Bayern, gostava de lhe dessem jogadores para ele jogar o jogo que eu gosto, um jogo mais interior e com mais pausa. No Bayern era difícil porque não tinha muitos jogadores com essas características, no City vamos aguardar para ver. O tempo de treino que vai ter entre jogos, ou que neste caso não vai ter, não me assusta muito porque ele é um monstro no treino, operacionaliza as suas ideias como ninguém e, por isso, não me acredito que ao nível do modelo de jogo vá ter dificuldades em impor a sua ideia de jogo. O City era a minha escolha para ele, é o clube menos inglês em Inglaterra e tem o plantel que mais me agrada para as suas mãos. Vai ser constantemente confrontado com autocarros, mas já é habitual. Tenho obrigatoriamente que dizer que são os mais fortes candidatos ao título, mesmo sem saber quase nada do que irá ser o plantel e de como estarão os rivais, mas Guardiola é Guardiola.
- O que achas da contratação do Renato Sanches para o Bayern?
JB- Acho que para o Renato vai ser muito bom, porque vai permitir que evolua numa liga 10x mais forte que a nossa, em todos os aspetos. Mesmo que não tenha muitos minutos em campo, vai sempre evoluir muito em treino, em contacto com os melhores. É mais um estímulo para a sua evolução, e é na dificuldade e no erro que se evolui. Vai certamente errar muito, vai ser obrigado a pensar e a executar mais rápido, mas é o que se pede nesta fase. Os valores da transferência são altos, é factual que ele ainda não vale aquilo tudo, mas cada vez mais se paga o potencial do jogador e não o que pode render no momento. Se vai ter sucesso? Não sei, talvez, mas não no imediato. Se vai evoluir e tornar-se melhor do que era? Sem dúvida alguma, tem potencial para isso. O trabalho do treinador vai ser fundamental, tenho pena que não apanhe Guardiola.
- Prognósticos para o Euro?
JB- Vai ser uma competição a eliminar e isso traz sempre surpresas. Há seleções em que pouca gente acredita que vão fazer estragos porque se vão apresentar muito bem trabalhadas. Falo da República Checa, por exemplo, que eliminou a Holanda e que se apresentou com um jogar muito interessante. Quanto aos favoritos são os habituais: Alemanha; França; Espanha… O rumo que a competição levar vai depender muito do sorteio, se seleções fortes se encontrarem em fases precoces da competição pode ser normal ver outras em fases mais avançadas. Quanto a Portugal, temos a obrigação de passar em 1º lugar no grupo, é o grupo mais fraco da competição. Depois disso vai, mais uma vez, depender do sorteio. Se apanharmos seleções acessíveis podemos ir relativamente longe, mas não me acredito minimamente que cheguemos perto de ganhar a competição. A minha aposta vai recair na Alemanha, mas vai ser um Euro cheio de surpresas.
- Que surpresas consideras terem-se verificado neste ano de futebol do ponto de vista de clubes?
JB- Cá em Portugal os destaques vão para o Braga, pela qualidade de jogo. Para o Arouca, pela classificação final. Para o Porto, por mais uma época fracassada. E por fim, para o Chaves do Vítor Oliveira, que apesar de não me identificar com a proposta de jogo, subiu mais uma vez.
Lá fora, felicito o Leicester pelo feito histórico, independentemente de tudo o que eu goste ou não de ver em campo. Um muito obrigado ao Tuchel e ao Sarri, pela qualidade que trouxeram ao Dortmund e Nápoles, respetivamente. Grandes ensinamentos retiro deles os dois. Ao Atlético de Madrid, especialmente ao Simeone. Não gosto do modelo de jogo, mas amo a forma como os jogadores morrem por uma ideia comum. Todo o mérito para ele. Também tenho que dar os parabéns ao Tottenham pelo grande trabalho que o Pochettino fez com um plantel medíocre. Aliou sempre uma qualidade de jogo cativante a resultados. Para mim, a equipa que melhor jogou na Barclays. E acho que é tudo, espero não me ter esquecido de ninguém.
- Equipa do ano da Liga Portuguesa (XI + treinador)
 JB- Em 442: Ederson; Layun; Lindelof; Coates; Bruno César; Adrien; João Mário; Bryan Ruiz; Rafa; Jonas; Slimani
Suplentes: Miguel Silva; Jardel; Afonso Figueiredo; Renato Sanches; Pizzi; Gaitan; Mitroglu
Treinador: Jorge Jesus
Treinador Adjunto: Paulo Fonseca

1 comentário:

  1. nao percebi a escolha do lateral esquerdo/direito (bruno cesar???).
    Tottenham com plantel mediocre?? dou muito merito a maneira como eles jogam, mas plantel fraco e coisa que eles não tem, muito pelo contrario... finalmente arranjaram um bom ponta de lança, que marque muitos golos, excelente meio campo, dos melhores GR da liga e uma defesa bastante segura. ja para nao falar da aposta na formaçao, o que e sempre vantajoso ter jogadores da casa a jogar

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